Diversidade conquista as quadras do campeonato Recife Bom de Bola
- Otávio Gaudêncio
- 16 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 18 de jun.
De pautas de gênero à inclusão de pessoas neuro divergentes, o respeito e a representatividade ganham seus espaços

O maior campeonato de times de várzea do mundo, o Recife Bom de Bola, está acontecendo na capital pernambucana neste exato momento. O torneio é dividido em duas modalidades: futsal e futebol de campo. Dentre os modelos de esporte, a competição é subdividida em categorias, que vão desde a questão etária até a de gênero. A novidade desta edição é a especificação para jogadores transmasculinos, composta pelo Coletivo Força-Trans.
Desde 2019, a equipe acolhe pessoas trans e não-binárias, incentivando a diversidade e a igualdade entre os gêneros por meio da prática do esporte. “Era só uma ‘pelada’, mas percebemos que precisávamos de uma política mais afirmativa para lutar por nossos direitos. Daí, surgiu a ideia de criar um coletivo para discutir políticas públicas para a população LGBTQIA+”, explica Luiz Gabriel, fundador do time.
Nesta edição do Recife Bom de Bola, a luta do Coletivo Força-Trans ficou ainda mais evidente. Foi criada uma categoria para pessoas trans-masculinas no futsal do torneio. Na nova classificação, a equipe se divide em duas e disputa o formato de três partidas, no qual o time que vencer dois confrontos primeiro é campeão.

Contudo, não é apenas a questão de gênero que vem conquistando seu espaço na competição. Outro exemplo de luta e de superação é o time de futsal da ONG Caine (Centro de Apoio e Integração de Portadores de Necessidades Especiais). A organização funciona desde 2000 e tem como objetivo oferecer uma qualidade de vida melhor para pessoas com deficiência - congênita ou adquirida -, através de uma equipe interdisciplinar.
Foi nesta ONG que o professor de educação física especializado em autismo Diogo Arcanjo teve a ideia de criar o que, de acordo com ele, é o primeiro time de pessoas neurodivergentes de Pernambuco. Durante sua graduação, em 2016, Diogo já estava na ONG e, por conta da invisibilidade que o tema autismo sofria na época, ele decidiu se pós-graduar no assunto. “Aí fui seguindo e chegou um ponto que foi o time. Eu pensei “vou fazer um time diferente”, e dentro desse time, eu me perguntei “Por que não fazer um time de pessoas com autismo?”

A ideia foi posta em prática no ano de 2019. “Era só escolher alguém pra ficar no gol, o goleiro jogava a bola e a gente tinha que driblar e chutar”, conta Jonatan, atleta da ONG Caine. Segundo ele, no início, a equipe era composta por apenas três integrantes. Com o passar do tempo, o número de participantes aumentou: “Mais amigos para eu conseguir me divertir mais”, diz.
A avó do menino, Maria das Graças destaca a interligação entre o crescimento do projeto e o desenvolvimento das crianças. “Foram vindo mais meninos, eles foram se entrosando mais, se comunicando mais e formou uma felicidade... se tornaram amigos”.

Esta já é a terceira participação consecutiva do time no Recife Bom de Bola. Segundo Matheus - outro integrante do elenco -, os campeonatos que eles disputam ajudam a melhorar as habilidades dos jogadores. “Com o passar dos jogos, de antigamente até hoje, a gente tá mais focado e mais habilidoso”. O atleta complementa falando da importância do trabalho em grupo: “Gosto de jogar junto com minha equipe... o trabalho em equipe resulta mais no nosso futuro, trabalhando juntos a gente consegue ir mais longe”.
A mãe de Matheus, Cristiane Brito, destaca a evolução do filho desde que se juntou ao time: “Ele se desenvolveu muito, era muito calado... não era de se aproximar de ninguém. Depois que começou a fazer o esporte, ele foi ficando mais aberto com os amigos, começou a fazer amizades... ficou mais desenvolto”, avalia. Cristiane conta que seu filho até começou a sair de casa sozinho, pois, segundo ela, não havia mais motivos para se preocupar. “Hoje em dia ele sai, joga bola e só chega de noite”, afirma.
Atualmente, pautas que envolvem diversidade e representatividade vêm se tornando mais presentes tanto na mídia quanto no meio social, independentemente do assunto. Ser representado, compreendido e respeitado é um direito de todo ser humano. Para os interessados, as redes sociais dos projetos: @ftranscoletivo_ e @futsal.ongcaine.
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