Campanhas em rede: o novo palco da política no Recife

Com força das redes sociais, estratégias digitais substituem comícios e panfletos.

Curtidas, vídeos curtos, slogans e estratégias digitais vêm tomando o lugar dos tradicionais comícios e panfletagens nas campanhas políticas do Recife. Em um mundo cada vez mais conectado, a publicidade e o marketing assumem um papel central na forma como candidatos constroem a sua imagem e disputam a atenção do eleitor nas redes sociais. 

Segundo Antônio Henrique Lucena, professor de ciência política da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), a relação entre marketing e política não é novidade, mas se intensificou com o avanço digital. “Antes das redes sociais, havia muita preocupação dos políticos em fazer coalizões, para que eles pudessem ter tempo de rádio e TV, porque isso dava visibilidade. A diferença para o período anterior é que era uma coisa enlatada, muito mais planejada”, explica.

A percepção de mudança no uso das redes sociais também é sentida por quem já passou pelas urnas. Ivan Moraes, ex-vereador do Recife e pré-candidato ao governo de Pernambuco em 2026 pelo PSol, compara os diferentes cenários que viveu desde sua primeira eleição, em 2016: “Eu já era um usuário bem frequente, bem assíduo de redes sociais. Mas, para você ter uma ideia, a questão de impulsionamento era uma coisa que mal se falava. Salvo engano, era até proibido no período eleitoral”, relata.

Hoje, porém, ele enxerga um cenário mais desigual: “A monetização virou a regra, ela não é mais a exceção. Tem sido muito mais difícil para quem tem poucos recursos poder disputar esse espaço também nas redes sociais”, pontua. Para ele, os algoritmos das plataformas criaram bolhas que dificultam o alcance de novas pessoas e reduzem o espaço de debate público: “Hoje você praticamente fala para si mesmo, se você não aportar dinheiro. É um ambiente em que o dinheiro manda na capacidade de alcance da mensagem”, comenta.

Thelma Guerra, professora e coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da Unicap, aponta a campanha de Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos em 2008, como um marco mundial no uso estratégico das redes sociais. Obama foi o primeiro candidato a usar extensivamente redes sociais hoje populares (Facebook, Twitter e YouTube) como ferramentas centrais de sua campanha. 

Thelma cita ainda o atual prefeito do Recife, João Campos (PSB), como exemplo nacional: “Desde a sua primeira eleição, ele vem trabalhando e utilizando algumas estratégias. Além de usar as redes sociais, tem feito uma coisa mais constante, que na mídia tradicional não é feita”, menciona. Sobre as próximas eleições, a publicitária alerta para a presença crescente da tecnologia: “Sem sombra de dúvidas, teremos um boom das redes sociais unido à inteligência artificial”, declara.

Mas, além do marketing político, crescem também nas redes sociais a desinformação e as fake news. Andréa Trigueiro, professora de jornalismo da Unicap, chama a atenção para as questões éticas que envolvem campanhas políticas em ambientes digitais: “Se nós pensarmos que a ética pessoal precede a ética profissional e se nós pensarmos na existência de uma legislação que nos obriga a ter responsabilidade com o que escrevemos, é possível realizar práticas éticas no marketing político digital”, reitera. 

Recife se destaca no cenário da publicidade política, especialmente no ambiente digital, cuja tendência é de crescimento contínuo. E, assim como alertam os especialistas, é necessário responsabilidade por parte dos que almejam ou ocupam cargos públicos.